Expressa o facto no momento em que se fala. Pessoal e transmissível.
04
Mai 12
publicado por José Maria Barcia, às 09:08link do post | comentar | ver comentários (59)

 

 

 

Ainda sou do tempo em que comprar uma revista da Playboy era um misto entre perigo e prazer. A proibição de não ter idade para ver demasiado corpo em tanta página, e com sorte, uma ou outra parte apenas vista quando a televisão ficava ligada durante a madrugada e o saudoso canal 18 se estabilizava.

 

Tal eram os tempos, em que nem sequer havia uma edição portuguesa. Lá se encontrava uma inglesa ou brasileira (edições, claro está) e mostravam o que havia de melhor em comprar uma Playboy: corpos femininos desnudos. Era coisa de esconder a revista como uma bíblia em perseguições a católicos na Roma Antiga, mas desta vez, dos olhares jocosos e confrangedores de um elemento familiar qualquer.

 

Passa o tempo, passa o perigo de comprar uma revista para adolescentes – para adultos é um livro erótico, convenhamos – há uma em qualquer estação de serviço e já não há vergonha em comprá-la. Mas embora tenha ido à vida o aquilo que mais prazer dava em ter esta revista, apareceu uma coisa nova: a edição portuguesa. O que deixa uma pessoa a pensar, ‘’Ora então agora, que deixei de comprar a revista porque já tenho idade para a comprar, estes malandros, espetam-nos com miúdas portuguesas. Agora é que me lixei’’. E porquê? É simples. Existe em todo e qualquer homem, em maior ou menor dose, um sentimento telenovelístico. Gostar de mirar. De ver aquilo que não se vê no dia-a-dia. Ainda mais resumidamente, ver mamas de famosas. Ou rabos. Ou, muito sinceramente, qualquer famoso em trajes menores. O povo português então, que muito gosta de olhar para a relva da vizinha (sem trocadilho, por favor), adora ver que o famoso está nu. E é por isso que a Playboy portuguesa poderia ter um sucesso só alcançável ao predestinados.

 

No entanto, os senhores que decidem quem aparece na capa cometeram um erro gravíssimo: preocuparam-se mais em trazer famosas que a despi-las. E meus senhores, mais vale um peito nu incógnito que uma famosa com roupa suficiente para entrar numa igreja.

 

O que me levo à edição deste mês da famigerada revista. Na capa, Rita Pereira. Porreiro, pensa qualquer potencial comprador. E depois, percebe-se o porquê da revista vir rodeada de celofane. Publicidade enganadora. Vê-se um rabo, vê-se. Vêem-se costas, também. Tudo muito bom. Agora, e a nudez? Não há. E só se pode ver que não há depois de comprar a revista. É como comprar um Porsche e encontrar o motor de um carocha.

 

Sinto-me defraudado.


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