Expressa o facto no momento em que se fala. Pessoal e transmissível.
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Out 12
publicado por José Maria Barcia, às 00:06link do post | comentar

 

A normalidade é aborrecida. O tédio destrói tanto como ansiedade. No primeiro estado inventa-se. No segundo, deixa-se ir. Em ambos, é-se motivado pelo errado das acções.

 

A normalidade de uma vida deveria consistir numa vida pacata a roçar o inócuo. Nascer-viver-morrer e já está. No entanto, esta coisa de ser normal nunca é como aparece nos livros. A média – enquanto espelho da normalidade – é, na estatística, o valor que raramente se coaduna com a realidade. Em média um português a trabalhar por conta de outrem recebe 867,5€. Na realidade, há quem aufira  850 ou 900. Admite-se até que receba 860. Mas a média de salários, assim como a normalidade na vida, é metafísica. O patamar daquilo que não é estranho só aparece nos livros e na teoria que um e outro e tantos têm na cabeça. Por outras palavras, todos sabem o que é ser normal. Na prática, ninguém o é.

 

O que é ser normal? É não esperar muito e prevenir o pouco? É, depois de nascer, procurar ser e estar melhor? Ser assim é estar numa curva ascendente até ao dia em que se morre? E para ser normal a morrer, tem de ser durante o sono?

 

Indo por partes: à nascença. Aquele ou aquela que nasce com os pés primeiro hipotecou as hipóteses de uma vida pacata. Calmo, sossegado, neutro. É isto ser normal? É aborrecido. É maçador. Pior, é chato.

 

Depois, na infância. É preciso ter amigos mas nenhum que nos faça cometer loucuras ou ficar de castigo. As pessoas normais nunca são castigadas. Logo aqui, um pode concluir que a normalidade implica factores externos normais como os amigos e a família. Dito isto, é muito difícil levar uma vida normal mesmo antes dos três anos.

 

A adolescência. Madrasta de uma vivência. Ninguém gosta da adolescência, mesmo que não o consiga admitir. A adolescência é quando nos apercebemos que afinal a normalidade é muito difícil de atingir. É neste altura que se diz ‘’eu queria ser como ele que é normal’’ sem saber que ele diz o mesmo de ti. As dúvidas surgem antes dos 18 anos. Os medos desenvolvem-se e as defesas começam a criar fundações para as muralhas que se hão de construir. Pessoa diz ''Protege de muros quem te sonhas''. Isto vem na adolescência. Os sonhos por mais escondidos, ficam sempre dentro de uma pessoa. Numa quinta gaveta no armário mais maltratado da memória. Perdido numa sala com a chave em parte incerto. Coberto por caixotes cheios de térmitas. Num armazém. No fundo da cabeça. Quem tem sonhos nunca é normal nem sequer pode almejar a tal. O sonho tem sempre algo de irrealista. E o normal é sempre real.

 

Depois dos 18, suponho que seja sempre a piorar. A tal curva ascendente torna-se um rodopio de gráficos que comparam ganhas e perdas de não ser normal.

 

No fundo, ser normal, calmo, estável, sem grandes euforias ou depressões é aborrecido. Ser normal é aborrecido. É comida sem sal, verão ser calor, inverno sem chuva. Ser normal é viva sem sal nem calor nem chuva.

 

Se bem que a normalidade deve ser defendida em alguns aspectos. Em dose q.b. é bom não ser mas estar normal. Quase como um refúgio ou uma carta de trunfo que safa a mão na mesa. ''Agora deixa-me ser normal só para descansar um pouco''. Se a vida fosse um jogo, estar normal seria pedir um tempo. Para definir estratégia, motivar os jogadores ou simplesmente descansar. Sim, ser normal pode ser só isso: um pouco de descanso. Que, diga-se, às vezes cansa e chateia. Mais que aborrecer, a normalidade chateia horrores.


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