Expressa o facto no momento em que se fala. Pessoal e transmissível.
31
Dez 13
publicado por José Maria Barcia, às 19:08link do post | comentar

 

Aos meus amigos,

 

Prestes a acabar mais um ano, é norma olhar para trás, para o que passou e para o que está para vir. Cada um chega a uma conclusão do que foi o seu ano. Foi bom, mau, fácil ou difícil, uma maravilha ou um ano para esquecer. Ou tudo tudo no mesmo ano. 

 

Para mim, 2013 foi um ano de conquistas pessoais. Fiz várias coisas das quais me orgulho e também fiz outras que, não querendo esquecer, não quero repetir. Foi um ano que podia ter acabado melhor mas como em qualquer final de qualquer coisa é um alívio pensar que - por momentos - há uma ideia de restauro. Podemos voltar ao zero e começar tudo de novo - melhor ainda - podemos começar do ponto que queremos. Podemos deixar coisas ficar em 2013 e trazer outras para o ano que está prestes a chegar.

 

Em jeito de conclusão para este ano, quero levar os meus amigos. Quero trazer todas as pessoas que gosto, guardá-las numa caixa e levá-las para todo o lado para todos os anos que estão a chegar. É graças a vocês que 2013 foi melhor do que podia ter sido. É graças a vocês que os dias foram mais fáceis do que podiam ser. É graças a vocês que me maravilhei quando podia não o ter feito. É graças a vocês que tenho a quem agradecer nesta passagem de ano.

 

É esta a minha mensagem de fim de ano: façam o que quiserem mas se conseguirem fazer com pessoas que gostam de vocês - óptimo. Se eles gostarem de vocês como gostam delas: melhor ainda. Diz o cliché que os amigos são a família que se escolhe. Não podia ser mais verdade. Até numa amizade há espaço para os tios aborrecidos que só vemos duas ou três vezes ao ano, mas mesmo assim, vale sempre a pena.

 

Em finais de 2013 quero agradecer a todos os meus amigos. Assim tão simples como todas as boas mensagens devem ser: curtas e simples. Obrigado, gosto muito de vocês, sem vocês não seria a mesma coisa. Quando a última badalada tocar, o meu primeiro brinde será em vosso nome.


07
Out 13
publicado por José Maria Barcia, às 00:20link do post | comentar

Enquanto retirava o cachecol do pescoço, Sasha baixava-se para ver o sem-abrigo a dormir. O cachecol, azul escuro e desdobrada parecia uma manta.

 

Sasha tinha acabado de dar um beijo à namorada quando reparou no homem deitado ao lado de uma vitrine de um banco.

 

 

-Desculpa, aquele cachecol é teu?, perguntei.

-É.

-E deste-o?

-...Sim, porquê?

-Oh, nada...

 

Sasha afastou-se de mão dada pela rua fora. Ao seu lado, um pouco mais baixa e loura em vez de morena como ela, a namorada. 

Ao meu lado, o sem-abrigo. Com uma manta azul.


01
Jul 13
publicado por José Maria Barcia, às 02:15link do post | comentar | ver comentários (1)

Salva-me daquilo que mais me amedronta. Não sei o que é, ainda por cima. Não sei quem és, tu que me vais salvar. Impede toda a tristeza e abraça-me. Não peço muito. Nem um mundo nem uma lua, dá-me apenas conforto e paz. Não encontro em mim o que procuro, peço-te então o que não consigo por mim e é tanto. Faz o tempo voltar atrás e avisa-me daquilo que errei. Eu sei que não se pode fazer o tempo voltar atrás. Que não existe isso de piores ou melhores tempos. Que se vai passando de nível atrás de nível. Com sorte atinges um estado de serenidade e paz. Com sorte encontras alguém que te ajude e que possas ajudar a ser melhor. A quebrar barreiras - vulgo cliché - mas a ser um pouco mais que o que já foste. Mais completo, mais disperso das minudências do estar para finalmente ser! E ser tão grande e tão feito e tão único e ao mais tempo tão simples e tão feliz.

 

Tão feliz quanto o que podes ser. É correr sem que os pulmões digam que não há oxigénio suficiente para o esforço. Mas correr infinitamente sem fugir. Correr por correr. Deixar que o tempo deixe de existir e só exista o que está no presente e só isso interessa. O que passou e está para passar são sombras do mesmo objecto, apenas com pontos de luz diferentes.

 


publicado por José Maria Barcia, às 01:40link do post | comentar

 

 

Apaixonei-me.

 

Foi-me criada uma paixão. Uma ansiedade, portanto. Fui induzido numa parafernália de sensações desconfortavelmente bem vindas.

 

Apaixonei-me quatro vezes nos últimos dias. E outras tantas, ou talvez nem tampoucas. Sem dizer a ninguém, muito menos a quem merece tal declaração. Só assim uma paixão vale. Quando é sentida em silêncio e em solidão. Como as verdadeiras paixões que duram anos e custam décadas. Como deve ser. Uma paixão declarada deixa de ser paixão para se transformar numa tentativa de reciprocidade. “Estás apaixonada por mim, como eu por ti?” e acabou-se a ilusão tão mais verdadeira que a mundana resposta: “Sim” ou “Não”. E acabou-se a paixão.

 

Estar apaixonado é desagradavelmente agradável. Não se combate, não se reprime – aceita-se. Deixa-se ir sabendo de antemão que todas as efémeras paixões que já passaram já não passam de memórias ou de pequenas vergonhas do que foi feito, dito ou não dito.

 

Pois bem, apaixonei-me e assim me quero manter até deixar de estar. Seja por que razão for. Porque ela disse que sim ou – deus me livre – que diga que não, ficando o aviso: não vai correr bem. Dizem os eruditos que a paixão é passageira e que com a sorte e o destino se transforma em amor. São as fundações de um edifico que durará a vida inteira. Ou então é só uma paixão porque o tempo está mais quente. A noite convida a dançar pela sua infinidade. Desde o fim do dia ao inicio do próximo, são os apaixonamentos de verão.

 

Feitas as contas, ano após ano, é preferível alimentar o estar apaixonado com aquilo que faz as paixões florescerem. Uma inactividade masoquista própria dos grandes amadores da História. Até uma dia em que o ciclo se inverta e me perguntem: “Estás tão apaixonada por mim, como eu de ti?”


06
Jun 13
publicado por José Maria Barcia, às 00:20link do post | comentar

Vivemos num sítio sem dolo nem dor onde o mundo anda todos os dias sem perguntar se pode. Sem preocupação com o que acontece, o dia passa e outro também e mais um e ainda outro. Cá estamos para mais um dia. Há quem não aguenta num acto de cobardia em extrema coragem, não sei, mas fogem ou enfrentam a sua própria morte com a escolha de acabar. 

 

E cá estamos para mais um dia. O que estamos cá a fazer ou para onde vamos? Interessa? Sim, em parte. Na outra parte, há a profissão, o amor, a filosofia que tenta justificar determinada acção, mas e então?

 

Depressão e recessão, crise e fome, abundância e um mundo de sonho. Um vida adiada e outra atrasada como um presente que se mostra no que passou ou naquilo que está para chegar. Nós quem somos? Um produto de alguma coisa ou uma coisa de alguma produção. Somos um espirro de uma geração e queremos ser imortais, escrevendo-nos na História.

 

Um encolher de ombros para concluir. Será isso, na melhor das piores hipóteses. Resta-nos isso, um encolher de ombros mais ou menos significativo, de encher peito ou altamente indiferente. Um encolher de ombros. Só e tanto isso.


05
Mar 13
publicado por José Maria Barcia, às 17:38link do post | comentar

Como estar bem?

 

Estar bem não é ser o que se pensa a continuidade do estado. Estar é momentâneo, como tal, merece ser aproveitado, usufruído ou simplesmente, usado. 

 

Estar bem não é uma festa. No estar bem não existe banda sonora que acompanhe os movimentos alegres de uma dança. Estar bem não é fugir do contrário. Estar bem é inexplicavelmente, aceitar uma posição que passa o conforto. O conforto é mediano. O conforto é muito pouco comparado com estar bem. Não se está bem quando se resolve problemas. Aí, há apenas uma maior leveza do que incomoda. Estar bem não preciso de um local, precisa de um modo. Pode chover enquanto se está bem. Agora, neste momento, está a chover num dia cinzento. E até assim se pode estar bem. 

 

Estar bem é uma inspiração. Acorda-se bem e o dia é mais fácil. Quando se acorda bem, até a vida parece mais fácil. Os problemas não desaparecem, apenas tomam as devidas proporções. Não há dramas, há assuntos. O drama é um assunto exponenciado por culpa própria. 

 

Até hoje, não aprendi a ficar bem. Mas até hoje já consegui estar bem. Não é fácil mas é muito melhor. Encaixotar os dramas até o tamanho de assuntos e ser. Só se pode ser quando se está bem. Nos dias que correm, já não se aprende a estar bem. Aprende-se a querer ser bem, numa promessa de uma saco de nada. Todos nós, desde pequenos, vivem com a promessa de um dia bom. Esse dia é vago, nunca há uma boa explicação - descritiva e explicada - do que vem nesse dia. No entanto, tendemos a acreditar que esse dia é melhor que hoje e será sempre melhor que já foi. Hoje, isso é mentira. Não há dia melhor que o de hoje porque não se pode saber como é amanhã. O mundo pode acabar amanhã e isso é, amplamente consensual, um dia mau.

 

Uma vida que busca a promessa sem saber bem o que acontece quando a dita chegar é pouco vivida. Vive-se com o que a memória permite do que passou e daquilo que os sentidos deixam que aconteça. Pedir mais que isso é insensato. Só há amanhã se esse dia chegar hoje. De vale viver adiado se não se pode ter a certeza mais que absoluta de que esse adiamento valerá a espera? 

 

Não sei o que é ser bem. Tento, quase todos os dias, viver segundo essa promessa que me fizeram ainda no berço. Estuda, disseram. Trabalha, disseram. Mas nunca ficou por aqui. Não era estudar para ganhar conhecimento, para saber mais. Não era trabalhar para concretizar ou construir. Nunca foi isso. Estuda e trabalha, disseram, para teres sucesso. Ora, a partir do momento em que acreditei nessa promessa, comecei a adiar o hoje. Aliás, deixou de haver hoje. E até o sucesso, nunca mo explicaram. Dinheiro? Fama? Paz? Ou felicidade? Todos, talvez? Urge então, interromper a promessa. Estudar e trabalhar e viver e escolher o sucesso. Mas o meu, que deve ser diferente do teu. O meu é estar bem hoje. Mesmo que chova, que o cinzento do céu não passe e que o frio me obrigue a mais roupa. 

 

Não sei como ficar bem. Perdi tempo a aprender a cumprir a promessa dos outros a encontrar maneiras de estar bem quando isso não é natural. Hoje foi diferente. Hoje, aprendi que amanhã não acontece tanto como hoje.


16
Dez 12
publicado por José Maria Barcia, às 17:59link do post | comentar

Palavras em sons disformes de sentido anterior à concepção do dito. Falar.


05
Dez 12
publicado por José Maria Barcia, às 12:17link do post | comentar

 


27
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 19:37link do post | comentar

Manifestação sim, mas almoço primeiro. Manifestação da CGTP acaba antes da hora de almoço.

 

 


22
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 14:26link do post | comentar

Não é de hoje.

 


19
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 13:00link do post | comentar

O Director do gabinete de Imprensa e Relações Públicas da Polícia de Segurança Pública fala sobre a Greve Geral, o papel da PSP, os confrontos e a carga policial:

 

 

 

''A última década tem demonstrado de forma notória e inequívoca, o avanço extraordinário que tem norteado o crescimento da Polícia de Segurança Pública (PSP). Tem conseguido afirmar-se como uma polícia moderna, preparada e reconhecida no seio europeu e internacional.
A sociedade portuguesa, a maioria dos cidadãos concorda com esta visão e a prova dessa concordância está em parte patente nos comentários, na “avaliação” que a sociedade fez da intervenção da PSP por ocasião das últimas manifestações e da greve geral. Legitimar uma “carga policial” é considerar que todos os pressupostos tendentes a evitá-la foram garantidos, defender a intervenção policial neste cenário de tensão, é ter a capacidade de analisar de forma descomplexada que esta acção era necessária e adequada à garantia da ordem e paz social.
Os últimos meses têm sido profícuos em manifestações públicas de descontentamento social motivadas pela austeridade vivida por diversos sectores da sociedade. O desemprego, os cortes salariais, as restrições orçamentais têm atingido de forma equitativa todos os sectores da sociedade portuguesa e de igual forma, atingem os polícias. Os homens e mulheres que ostentam, durante uma manifestação, material de ordem pública por cima de uma farda, também são portugueses, também são atingidos com cortes salariais, viram as suas expectativas de progressão congeladas, fazem os mesmos sacrifícios, possuem famílias com filhos que estão desempregados, que passam restrições e dificuldades.
É esta capacidade de “autismo” que permitiu aos homens e mulheres da PSP, coroar com intervenções equilibradas e consensuais os últimos protestos sociais. Os polícias estão preparados e formados para viver com estas “convulsões sociais”, estão capacitados a identificar os cenários, a contextualizar as multidões, a antever as consequências da sua intervenção e a procurar todas as soluções num contexto de problemas. É verdade, os polícias são tudo isso e muito mais e felizmente é nesta capacitação operacional que reside a evolução da PSP nos últimos anos, com maior incidência, na última década.
Infelizmente ainda existem muitas vozes dissonantes que por regra ou por complexo, são sistematicamente contra a Polícia, qualquer que seja a sua intervenção e/ou resultado do seu empenho operacional. Exigir-se que os polícias tenham a capacidade de discernimento no âmbito de uma carga policial, onde o stress, a adrenalina, as mazelas físicas, o cansaço e o avanço à voz são parte da mesma equação psíquica e motora, é exigir o impossível. Se o exemplo português não é suficiente, veja-se a forma como se vivem manifestações públicas na Grécia, na Espanha, em Itália, na Inglaterra, na França, na Bélgica, que sendo países europeus, são exemplos mais próximos de nós. Mas, mais do que procurar exemplos para maximizar as vitórias ou minimizar as derrotas, o importante é percebermos que todos evoluímos e nessa evolução, mesmo com os problemas que têm caracterizado a nossa sociedade nos últimos meses, a PSP tem sabido evoluir.
A PSP está consciente do seu papel na sociedade, os polícias estão cientes do seu papel no âmbito desta missão social, queiramos todos estar preparados para ler os sinais, para escutar os avisos e sair quando chegar a altura. Agora e cada vez mais, saibamos manifestar-nos e se for atingido o ponto da inevitável reposição de ordem pública, como na última greve geral, sejamos precavidos e regressemos a casa quando chegar a altura. Estejamos conscientes que a minoria que prevarica, instiga, apedreja e atinge, está convenientemente identificada. É nosso dever fazê-lo, é nossa obrigação reconhecê-lo e continuaremos a pugnar a nossa intervenção com esse grande objectivo: continuar a garantir que essa minoria irá enfrentar as consequências da justiça pelos actos que comete.
Lamentamos profundamente a existência de cidadãos atingidos pela intervenção policial que nada têm a ver com a minoria referida, é para essa maioria que todos os dias trabalhamos para continuar a melhorar a nossa acção. Todos somos portugueses!''


18
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 00:16link do post | comentar | ver comentários (287)

Explica, na primeira pessoa o que se passou e como foi no Tribunal de Monsanto:

 

 

''RELATO DA MANIFESTAÇÃO DE 14 DE NOVEMBRO

Ao contrário do que muitos possam pensar eu não tenho qualquer sede de protagonismo ou vontade de me expor, antes pelo contrário, há até alturas em que prefiro honestamente passar despercebida, mas esta altura não é (porque não pode ser) uma delas.
Decidi escrever este texto porque como cidadã sinto-me não só no direito como na obrigação de relatar o que realmente aconteceu na passada manifestação de 14 de Novembro na Assembleia da República, e digo realmente porque infelizmente mais uma vez a comunicação social preferiu manipular e ocultar a verdade, já para não falar das nojentas e falsas declarações da PSP.
Cheguei a São Bento acompanhada do meu namorado e dois amigos por volta das 16:00/16:30 quando o Arménio Carlos da CGTP ainda estava a discursar. Mantive-me lá alguns instantes, tendo depois chegado outra amiga nossa. Entretanto desloquei-me com uma amiga ao Mini Preço e qual não foi o meu espanto ao ver quando voltámos que já as grades tinham sido derrubadas e já um enorme alvoroço ocorria. Quem esteve presente não pode mentir e ser hipócrita dizendo que não houve violência da parte dos manifestantes pois é claro que houve, durante duas horas os polícias do corpo de intervenção foram agredidos com pedras da calçada, balões de tinta, garrafas de cerveja, etc. Foram agredidos sim, mas por uma MINÚSCULA minoria dos que estavam presentes na manifestação! No meio de milhares de pessoas talvez só umas 10 (e bem visíveis) arremessavam pedras e outros objectos. Independentemente da agressão que sofreram NADA justifica o que se passou em seguida… de repente, sem qualquer aviso prévio, (embora a comunicação social e a PSP insistam que houve um aviso feito através de megafone quem esteve presente na manifestação sabe tão bem quanto eu que não se ouviu absolutamente nada e que não foi feito qualquer esforço para que se ouvisse…) a polícia carregou sobre os manifestantes com uma brutalidade sem medida e que eu jamais tinha visto na vida. Como todos os outros comecei a correr e encostei-me à parede, de seguida várias dezenas de pessoas (muitas de idade avançada) se juntaram a mim e tentámos todos proteger-nos uns aos outros. A maioria das pessoas chorava e gritava “PAREM! PAREM POR FAVOR! NÃO FIZEMOS NADA!” e a polícia continuava a espancar toda a gente sem dó nem piedade e ainda com mais força! Vi velhotes a serem espancados, sei de pessoas que viram pais a serem espancados com os filhos pequenos ao colo, sei de pessoas que viram a polícia a tentar espancar uma pessoa de cadeira de rodas e vários manifestantes a rodeá-lo apanhando a pancada por ele para o protegerem. No meio de tanta violência, confusão e multidão histérica tentando sobreviver o melhor que sabia, consegui fugir com o meu namorado mas acabámos por nos perder dos nossos amigos. Continuámos sempre a fugir em direcção à Avenida Dom Carlos I, várias vezes parámos pelo caminho pensando que a polícia já não vinha atrás de nós, e várias vezes tivemos que fugir novamente pois a perseguição continuava. Acabámos por encontrar novamente um dos nossos amigos e depois de vários chamadas telefónicas soubemos que as duas meninas nossas amigas tinham ficado retidas pela polícia, marcámos um ponto de encontro e passados uns minutos elas lá conseguiram fugir e encontrámo-nos todos. Daí para a frente o nosso único objectivo era conseguirmos perceber o que se estava a passar mas acima de tudo assegurarmos também a nossa segurança, mas rapidamente percebemos que tal não seria possível. A polícia pura e simplesmente não parava de perseguir os manifestantes! Continuámos sempre a fugir, parando pelo meio para curtos descansos pois a perseguição continuava… já na Avenida 24 de Julho pensámos estar safos mas que mera ilusão, aí ainda foi pior! A Polícia continuava atrás de nós e de muitos outros mas desta vez disparando balas de borracha! Todos corremos apavorados o máximo que podíamos até que de repente mesmo ao pé da estação de comboios fomos interceptados por um grupo de polícias à paisana que violentamente e chamando-nos todos os nomes e mais alguns nos obrigaram a encostar às grades da estação enquanto mandavam ao chão e agrediam outras pessoas. Lá ficámos sendo enxovalhados e revistados vezes e vezes sem conta. Os rapazes foram todos algemados (uns com algemas e outros com braçadeiras) e separados das raparigas e de seguida fomos obrigados a sentarmo-nos todos no chão sem saber o que ia acontecer pois os polícias só nos intimidavam e não respondiam a nada. Devo frisar que devíamos ser cerca de 15/20 pessoas todos na sua maioria jovens adultos (18/20 anos) e inclusive um rapazinho de 15 anos! Lá fui posta dentro da carrinha com as minhas duas amigas, com o meu namorado e com mais 6 jovens (um dos amigos que tinha ido connosco conseguiu fugir), ou seja 9 pessoas dentro de uma carrinha com capacidade para 6. Fomos dentro da carrinha (os rapazes todos algemados) sem nunca nos ter sido fornecida qualquer informação sobre o lugar para onde íamos ou sobre o que nos ia acontecer. Chegando ao local estivemos uns intermináveis minutos todos fechados dentro da carrinha até que com intervalos pelo meio nos foram tirando de lá um a um, até no final só ficar eu. Fora da carrinha agarraram em mim sempre a gritarem “BAIXA A CABEÇA! OLHA PARA O CHÃO CARALHO!”. Já dentro da “esquadra” (Tribunal de Monsanto, o que por si só representa uma ilegalidade) fui escoltada por uma mulher polícia até à casa de banho onde me obrigaram a despir INTEGRALMENTE, onde me obrigaram a colocar-me de cócoras para verem se tinha algo escondido na vagina ou no ânus, onde me obrigaram a tirar todos os brincos, anéis, pulseiras, atacadores dos sapatos e os próprios sapatos! Fui obrigada a dar o meu nome e data de nascimento. Ficaram com todos os meus pertences (incluindo o telemóvel que antes me tinham obrigado a desligar) e fui levada até à cela de meias num chão gelado! Lá á minha espera estavam as minhas duas amigas e outras duas meninas que também tinham sido detidas. O que se passou a seguir foram duas horas e meia ridículas e sem qualquer sentido… foram-nos sempre negados os telefonemas para casa, sempre que alguém falava nisso alegavam que não sabiam de nada, nunca nos disseram porque estávamos ali, nunca nos respondiam concretamente a nada, apenas mandavam bocas estúpidas! Ficámos na cela duas horas e meia ao frio, sem comer, sem beber, descalços e vá lá que nos deixaram ir à casa de banho embora às meninas tenham dito “espero que tenham aproveitado pois só lá voltam amanhã”. Passadas essas duas horas e meia fomos sendo chamados um a um para recolhermos os nossos pertences e para serem feitas as identificações. Foram preenchidas folhas em que nos eram pedidos todos os nossos dados (BI, nome dos pais, morada, telemóvel, telefone fixo, profissão, etc. …) tendo que assinar no final, caso não o fizéssemos não sairíamos dali. Lá fomos embora, vendo-nos todos no meio do Monsanto muitos sem saberem sequer como ir para casa.
Não fomos espancados na “esquadra” mas fomos todos vítimas de humilhação e violência psicológica. Todos fomos detidos injustamente sem nunca sequer termos sabido o porquê da detenção. Fomos perseguidos como criminosos desde São Bento até ao Cais do Sodré! Éramos todos jovens (como já frisei a média de idades devia rondar os 18/20 anos) cujo único crime cometido foi termos participado numa manifestação. Nem eu, nem nenhum dos meus amigos arremessámos qualquer pedra, garrafa ou o que quer que fosse, não o fiz desta vez nem em nenhuma outra manifestação. Fomos detidos e perseguidos injustamente quando já nos dirigíamos ao Cais do Sodré para apanharmos um táxi para casa!
Quem não esteve presente e não viveu tudo isto certamente pensará que estou a exagerar ou a dramatizar, mas acreditem que não, as coisas foram bem piores até do que aquilo que descrevo. A repressão policial sentida ontem foi muito, muito grave e digna dos mais nojentos regimes fascistas e ditatoriais! As pessoas estavam literalmente a ser espancadas e perseguidas nas ruas e não tinham ninguém que as protegesse! Eu vi velhos cobertos de sangue! Vi mulheres e homens aos gritos de medo e desespero!
Há quem sem sequer ter estado presente insista em “proteger” os polícias e dizer que agiram muito bem, que quem lá estava só tinha era que apanhar, que eles coitadinhos foram agredidos com pedras durante duas horas, que muito pacientes foram eles, que nós os manifestantes somos todos uns arruaceiros. A essas pessoas eu só vos digo: VÃO-SE LIXAR! Abram os olhos, abram a mente e vejam a realidade que vos rodeia! Vão a manifestações e vejam por vocês próprios o que realmente acontece! Sejam humanos, sejam solidários e deixem de acreditar em tudo o que a comunicação social vos mostra! NADA justifica tudo aquilo porque eu e milhares de pessoas passámos e isto não pode ficar impune! Toda a gente tem o direito de se manifestar sem ser agredido brutalmente ou perseguido! Fala-se num aviso feito pela Polícia de Intervenção mas ninguém ouviu esse aviso! Um dos rapazes que foi detido no Tribunal do Monsanto nem sequer tinha participado na manifestação, ia apenas a passar na Avenida 24 de Julho no momento das detenções! Acham isso bem? Acham correcto que dezenas de jovens inocentes tenham sido detidos sem terem cometido NENHUM crime? Eu não acho, acho vergonhoso, nojento e muito grave num país que se diz democrático e de 1º mundo! Foram queimados caixotes do lixo e postos a bloquear estradas? Sim foram, mas tudo como uma resposta de enorme ódio e revolta em relação à acção desumana da polícia! Eu era a primeira a ser contra o arremesso de pedras mas depois do que vi e vivi ontem digo com a maior tristeza do mundo: quem age assim não é um ser humano, é uma criatura maldosa e formatada e merecem o que lhes venha a acontecer daqui para a frente. São cães raivosos, mercenários do Estado que vestem a farda da ditadura em vez de protegerem o povo!
A todos os que foram detidos comigo, principalmente quem veio comigo na carrinha e as minhas companheiras de cela: OBRIGADA a todos! Obrigada pelo apoio, pela união, pelo convívio e risos mesmo numa altura tão triste para todos, pelas canções e assobios, pela partilha de opiniões e experiências e acima de tudo por lutarem por um país melhor para todos! Obrigada também a todos os que estavam à nossa espera à saída do Tribunal do Monsanto e a todos os que se preocuparam connosco.
Estou viva, bem fisicamente mas muito, muito triste e desiludida com tudo o que vivi … ainda estou em estado de choque e a achar surrealmente grave tudo aquilo que se passou. Peço desculpa se o texto não está o melhor possível mas é muito complicado relatar com exactidão tão chocante experiência.
O objectivo era incutir-nos medo e fazer-nos não frequentar mais manifestações? Teve o efeito exactamente contrário: não me calam e jamais me impedirão de lutar por aquilo em que acredito! A luta continua sempre! VOLTAREMOS!''

 

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08
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 01:24link do post | comentar

 

via OpenSecretes.org


07
Nov 12
publicado por José Maria Barcia, às 16:14link do post | comentar

Francisco Pinto Balsemão quer intervenção do Estado no uso de conteúdos na Internet


24
Out 12
publicado por José Maria Barcia, às 12:00link do post | comentar

Como diz o Henrique Raposo, uma tabela para imprimir e colar na parede.

 

Via Blasfémias

 

Número de Cidadãos em Portugal: 10 555 853   (INE)
Número de Trabalhadores no Activo: 4 837 000   (Pordata, INE)
Dívida Pública Portuguesa (2004) (M€) 90 739   (IGCP, Pordata)
Dívida Pública Portuguesa (2011) (M€) 174 891   (IGCP, Pordata)
Obrigações do Estado com PPP 2012-2050, VAL (M€) 26 004   DGTC
Dívida do Estado incluindo PPP (M€) 200 895    
Defice Público Português 2008/2010 (M€) -23 354   INE–MFAP, PORDATA
Quanto devia o estado por cada português em 2004 (€) 8 596    
Quanto devia o estado por cada português em 2011 (€) 16 568    
Quanto devia o estado por cada português em 2011, incluindo PPPs (€) 19 032    
Quanto devia o estado por cada português trablhador em 2004 (€) 18 759    
Quanto devia cada o estado por cada português trablhador em 2011 (€) 36 157    
Quanto aumentou a dívida pública por português durante a gestão Sócrates? 93%    
Quanto? 93%    
Tchii! Tudo isso?  Uma desgraça    
Quanto deve o estado por cada trabalhador português em 2011, incluindo PPP: 41 533    
Quanto foi o défice dos governo entre 2008/2010, por trabalhador: (€) -4 828    
Quanto foi o défice mensal do estado só no ano de 2009, por trabalhador, por mês? (€) 295    
Quanto gastou o governo português em 2010? (M€) 88 502   Fonte (OE, INE)
Quanto gastou o governo português em 2010 por trabalhador, por mês? (€) 1 525    
Qual é o salário antes de impostos de um trabalhador português? (€ mensais) 1 077   Fonte: GEP/MTSS  , PORDATA
Qual foi o PIB português em 2011? (M€) 171 016    
Que dívida representa 60% do PIB? (M€) 102 610    
Qual o aumento da dívida esperado para 2012 a 2014? (M€) 20 522    
Admitindo crescimento 0, quanto temos que pagar de dívida pública para atingir 60% do PIB? (M€) 118 807    
Para pagarmos isto em 20 anos, quanto temos que pagar por ano? (M€) 5 940    
Admitindo que não se mexe mais nos impostos, quanto tem que cortar a despesa? (M€) 14 491    
Quanto? 14 491    
Quanto é a despesa do estado, excluindo Saúde, Educação e Segurança Social? 10 291   OE, Pordata
Estamos metidos num grande buraco, não estamos? Estamos.
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